quinta-feira, março 27, 2014

Meu VBAC

Desde a primeira vez que fiquei grávida, tinha certeza que meu filho nasceria de parto normal. Na verdade, não consigo entender como as pessoas em geral podem ter medo de passar por um procedimento cirúrgico (basta ouvir "é preciso operar" para qualquer um tremer nas bases, mesmo que seja para tirar o apêndice) e achar que uma cesariana é coisa de rotina...

Nem de longe vou discutir a questão da escolha de cada mulher. Jamais. Mas é algo que não entendo, não é racional para mim essa diferenciação das cirurgias.

De qualquer forma, que lê esse blog sabe que isso (parto normal) não aconteceu. Meu primeiro bebê estava pélvico e eu, depois de conversar com alguns médicos, concordei em fazer uma cesariana. Concordei, mas não aceitei que isso tenha acontecido, infelizmente.

Algum tempinho depois engravidei novamente. E a primeira coisa que eu tive certeza é: vai nascer de parto normal. No intervalo entre as gestações, li bastante sobre o VBAC e sabia que era possível, já que o segundo parto estaria previsto dentro do intervalo recomendável de dois anos.

A segunda resolução foi encontrar um médico que concordasse com minha opção. Sei que existem profissionais bons em São Paulo, mas atualmente moro no litoral e não seria aconselhável viajar em pleno trabalho de parto com uma estrada em reforma. Acabei encontrando um médico superatencioso e que de cara concordou.

A conversa inicial (e final, eu diria) foi mais ou menos assim: Qual o tipo de parto? Normal! Certo, não vejo problemas. Mas me prometa que não vai desistir. Simples assim. Nunca mais conversamos sobre outra opcão.

Quando completei 38 semanas de gestação a ansiedade começou a aumentar. Eu havia decidido trabalhar até o fim e todos os dias ouvia dos colegas se não ia nascer. Na verdade, até eu estava tensa. Chegamos as 39 semanas e nenhum sinal de trabalho de parto. No entanto, na sexta-feira (39+1 dia) eu perdi o tampão mucoso. Relatei isso para o médico na consulta (39+4dias) e ele, depois de examinar, disse que não havia sinal de dilatação, mas que o colo estava fino. Meu marido chegou a perguntar quanto tempo mais e o GO respondeu: pode ser amanhã ou daqui a 3 semanas...

Voltei para casa arrasada. Tinha a impressão que a gestação não acabaria nunca! Eu estava tendo contrações, mas eram indoleres e muito irregulares. Decidi que não iria mais trabalhar. O cansaço havia chegado. Aproveitei que tinha alguns dias para compensar e não voltei ao Fórum na quarta. Caso o bebê não nascesse até segunda (40semanas +4 dias) eu sairia de licença maternidade.
Naquela altura eu já estava lendo sobre indução (não recomendada para VBAC, ao que parece; e ineficaz antes das 41 semanas, os textos diziam)...

Naquela quarta mesmo comecei a sentir contrações doloridas. Era por volta das 11 da noite. Avisei o marido e passamos a controlar os intervalos. Duas horas depois, com contrações a cada 5 minutos, tivemos certeza que o parto estava a caminho. Ligamos para os familiares (eles precisavam viajar até aqui para ficar com meu filho mais velho) e passamos a noite assistindo televisão e marcando os intervalos.

Eu já sabia que não adiantava correr para o hospital, porque poderia demorar muito. Então era melhor ficar em casa mesmo. Além disso, confesso que estava com vergonha de acordar o médico em plena madrugada. Quando amanheceu (6 da manhã), liguei e relatei o que estava acontecendo. Marcamos um exame às 7 no hospital. Lá ele me informou que eu estava con 2 cm de dilatação, mas as contrações ainda espaçadas. Optei por ficar lá mesmo, já que em casa o Porqueira acordaria e não iria entender que não poderia dar atenção para ele naquele momento.

Eram 10h00 quando o médico veio fazer um novo exame. Como eu disse que as contrações ainda estavam iguais, ele decidiu não fazer nenhum exame de toque, apenas auscutou o bebê. Tudo certo e o combinado de que ele voltaria às 13h00.

O tempo passou um pouco e eu decidi deitar. Estava acordada há tempos e cansada de caminhar. De repente senti uma dor muito grande. Esquisita até. Parecia que eu iria soltar um "pum", mas pelo "lugar errado". Senti um estouro e lá estava eu, toda molhada. A bolsa havia rompido! Eram 11h20.

Entrei no chuveiro para aliviar as dores das contrações que a esta altura começaram a ficar bem doloridas. Depois de algum tempo uma enfermeira apareceu para fazer um exame de toque. Eu reclamei de dor e de vontade de vomitar e ela disse que "seria um bom sinal". Vai entender. Segundo ela eu estava com 7cm. O médico chegou. As dores estava cada vez mais fortes. Na verdade, muito fortes.

A cada contração a vontade de fazerr força era enorme. Eu estava deitada, mas queria levantar. Mas os intervalos estavam muito curtos e não tive forças para isso. A dor só aumentava e nesse momento eu pedi para "tomar anestesia". A enfermeira disse que não era possível. Eu retruquei dizendo que era sim. E ela passou a dizer que se isso acontecesse eu iria acabar fazendo uma cesária. Naquele momento, pedi a noção da educação e falei que, comigo, chantagens não funcionavam comigo e que era possível sim. Além disso, era não era meu médico. A mulher saiu do quarto. Antes tarde do que nunca!

O médico me examinou e disse que eu estava progredindo e que não seria necessário anestesia. Segundo me disseram depois, eu ameacei chamar a polícia, porque ele estava me negando um direito! Coisas do ofício. Na verdade, eu não conseguia entender porque ele não queria autorizar a anestesia! Aquilo estava se tornando insuportável. Até cãimbra eu tive. Mandei o marido sair do quarto e chamar o médico. Quando ele entrou no quarto, falei que aquilo não estava certo. Eu havia feito um planejamento e nada estava acontecendo como eu queria.

Falei que a anestesia era possível e que o buscopam que eles haviam me dado não estava nem fazendo cócegas. E ele insistindo, dizendo que eu iria conseguir. Nesse momento eu disse: NÃO, não vou conseguir. Está doendo muito. A peridural existe, é possivel e eu quero! Foi quando fui informada que o hospital (único na cidade) não tinha o catéter. E que a única coisa que era possível era uma tal de "raqui baixa", mas só quando a dilatacão fosse total.

Nessa hora amaldiçoei todas as gerações dele. Me sentia uma idiota. Eu não havia optado por um parto normal daquele jeito. A dor, aquela dor gigante, estava fora dos meus planos! Claro que tem níveis de tolerância e eu havia aguentado tudo muito bem por 12 horas. Mas depois que a bolsa rompeu tudo foi ficando mais forte do que eu aguentava. Aqui um parenteses para as guerreiras que não têm direito à anestesia (SUS) e aquelas que não querem. Mulher macha mesmo!

O tempo passando e eu implorando para acabar aquilo, dizendo que não iria aguentar. Nesse momento o médico me "lembrou" que eu havia dito que não iria desistir. E que ele iria conversar com o anestesista. Voltou, nem sem quanto tempo depois, dizendo que iriam fazer a raqui. Fui andando para a sala de parto. Ao que parece eu estava com 9cm de dilatação. Duas contrações depois e a dor milagrosamente se foi!

Era exatamente isso que eu estava pedindo. Ali, com o incentivo do GO, do anestesista, da pediatra, da enfermeira e do marido, passei 1h30 fazendo força. É claro que a anestesia tinha atrapalhado o progresso. Mas antes demorar do que sentir a dor que eu sentia.

No final, eu estava muito cansada e a dor estava voltando. Eu sentia uma queimação no útero e isso estava me deixando preocupada. Avisei o médico. Pedi para ficar de pé, mas não deixaram, já que eu estava anestesiada. Em algum momento, pedi para ele "puxar a cabeça"! Doida...

Ele chegou a tentar colocar o forceps, mas desistiu. Segundo me disse depois, o instrumento não serve para puxar a criança, mas apenas conduzir o bebê para a saída. Se o encaixe não está perfeito, não deve ser utilizado, caso contrário poderia haver complicações.

Lembro que pediram para eu fazer força, porque faltava pouco. Muito pouco. Nesse momento ele optou por fazer um pequeno corte. Lembro que fiz força, segurei muito o ar. E o bebê saiu! Finalmente! Senti ele saindo. E aquela queimação toda, a dor que já havia voltado, passou. Imediatamente.

Meu filhote foi colocado na minha barriga. Ele era grande! Bem diferente do irmão, que era um ratinho. 50cm! 3.300kg! Uma graça. Depois de alguns minutos o cordão foi grampeado e o marido cortou. A pediatra pediu para levá-lo. O marido foi junto. Nasceu tão bem que nem precisou ser aspirado ou coisa parecida.

Além do corte, acabei tendo uma lasceração. O médico explicou e fez as suturas. Não me importava, na verdade. Afinal, tudo havia acabado e a dor havia sumido! rs Me sentia tão bem, apesar do cansaço, que poderia ir andando para o quarto.

Pouco tempo depois trouxeram aquele serzinho e fomos nós dois juntos. Ele ainda sem banho. De olhos abertos. Fofo. Mamou assim que ficamos sozinhos.

Olhando tudo o que passei, a recuperaçao, não tenho dúvidas que o parto normal foi muito melhor. Sei que o relato parece diferente, mas queria que ficasse claro que dói sim. Mas é possível. O que percebo é que acabei refém de um hospsital mal equipado (apesar de eu estar pagando, é uma Santa Casa que está sofrendo intervenção municipal). Isso porque ele seria uma referência estadual no parto normal.

Acabei recebendo a anestesia depois de 2 horas do rompimento da bolsa. Quando as dores estavam, para mim, insuportáveis. Não é necessário isso. Não mesmo. Mas acabou sendo o que aconteceu comigo.

Caso a gente decida ter outro bebê, sem dúvidas será de parto normal! Mas terei o cuidado (e recomendo que você tenha também) de escolher bem o hospital. Não quero correr o risco de não ter um mísero catéter.

Não foi um parto humanizado, como pregam por aí. Mas sem o incentivo do médico, eu teria desistido, provavelmente. Não é fácil esperar algo e não ter acesso. Mas foi um parto lindo. Todos tiveram paciência com meus gritos, meus xingamentos. Esperaram meu bebê se adptar ao mundo. Não o submeteram a nenhum procedimento desnecessário.

E ainda ganhei nota 10 do médico! Que apesar de ter sido ameaçado de prisão (rs), encarou tudo numa boa. Sei que não foi dele a opcão de não dar a peridural. Por isso, não o culpo por nada.

PS: Se servir de incentivo, 4 dias após o parto e eu já estava entrando num short antigo. E olha e havia engordado 13kg! Hoje, um mês e 1 semana depois, já se foram 9,5kg... sem dieta. A barrriga está quase no lugar (apesar de mole) e eu nem fiquei inchada, como no parto anterior.
Você pode estar perguntando dos pontos... ao todo foram seis. Um certo incomodo durou 15 dias, nada que um remédio não aliviasse. Hoje está tudo cicatrizado. Perfeitinho.