sexta-feira, julho 01, 2011

Da série: eu mereço!

O meu trabalho envolve o contato com pessoas de todos os tipos, desde os mais humildes, até os mais poderosos. Dos mais honestos, aos mais bandidos. Mas sabe que, tirando a parte séria da coisa, chega até a ser engraçado.

A melhor parte, na minha opinião, é o Júri. Não que seja fácil. Não é mesmo. Em dia de plenário chego em casa fisicamente esgotada. Fico imaginando como ficam os colegas que fazem Júris todos os dias. Tem que gostar mmuuuiitooo...

Mas digo que é a melhor parte, porque no Júri você tem a noção da realidade do povão. Sem dúvida, a maioria não entende o que está fazendo lá. Sabe que vai ter que julgar alguém, mas os desdobramentos disso...

Segundo plenário da minha vida; depois das recusas da defesa e da acusação, os sete jurados são escolhidos. A juíza avisa que eles compõem o conselho de sentença e que tem que, quando nominados, levantar e dizer: Assim eu prometo. Segue-se a cena:

Juíza: Fulana de tal
Jurada: PRESENTE!
Juíza: Não, senhora. Precisa dizer, assim eu prometo.
Jurada: Ahhh... SIM! EU PROMETO (ela deve ter achado que era casamento!)

Juíza: Beltrana
Jurada: SIM, EU PROMETO (casou com a primeira jurada).

Juíza: Cicrana
Jurada: SIM, EU RECUSO!

Todos param estupefatos. Recusa o que, Deus do céu? No mínimo ela pensou: se a defesa e a acusação podem recusar jurados, porque eu não posso recusar a julgar?

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Terceiro plenário que eu faço. Todos já na sala secreta. O juiz lê os quesitos e explicam que os jurados devem colocar o voto na primeira bolsinha que passar por eles. Na segunda fica o descarte. Começa a votação:

Juiz: Fulano de tal, no dia dos fatos, sofreu os ferimentos descritos no laudo de fls.? (Detalhe, foram 5 facadas e a vítima não morreu... mas tinha foto das lesões, laudos, etc). Defesa e acusação pedem que os jurados votem sim.
Todos votam...
Juiz abre a primeira cédula: NÃO! (Alguém pode me dizer que parte o jurado não entendeu da frase "defesa e acusação pedem sim"? No mínimo ele pensou: sou jurado, voto de acordo com minha consciência. Acho que é tudo mentira e voto não! Quero ver quem descobre que fui eu!)

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Plenário do hoje. Dois andarilhos amigos e constantemente bêbados. Um dá um tapa na cara do outro. O agredido promete cobrar caro o tapa. A vítima é encontrada morta com uma facada apenas. Até que fui boazinha e poupei os jurados das fotos coloridas do defunto aberto, não era caso que precisasse chocar o povo.

Acaba os debates e todos vão para a sala secreta. O juiz lê os quesitos. As cédulas são distribuídas. Quando a votação vai começar, por sorte, vejo um dos jurados com uma caneta na mão. Ele ia escrever na cédula!!! DEUS DO CÉU. Ia anular tudo. Foi por segundos. Dei um grito. O juiz olhou e eu disse: quase que ele escreve na cédula! Foi aí que o jurado viu que o SIM e o NÃO já vinham escritos. Não era multipla escolha e sim duas cédulas...

E isso porque eu só fiz 5 júris até hoje. Imagina um colega de São paulo que já fiz mais de 1000? Haja paciência para passar por isso...

PS: Num dos julgamentos o defensor alegou que a faca utilizada (uma daquelas de churrasco) não era uma faca própria para usar para quem queria matar. Não me aguentei. Na réplica, perguntei para os jurados:

Por um acaso, senhorES, a tramontina, além da linha mesa e churrasco, tem a linha FACAS DE HOMICÍDIOS? Quase matei os sete de tanto rir. Funcionou. Júri ganho. Hoje o advogado (coitado, só ele faz Júri na região, nenhum outro advogado quer o trabalho) me disse: Doutora, a senhora viu que eu nem falei da faca hoje né? Já basta aquela da senhora de "linha de homicídios da tramontina". Nunca mais argumento isso! kkkkkkkkkk

Um comentário:

UM DIA POR VEZ disse...

kkk acabei de ler pra Mauro, só hj descobri que vc voltou com o blog!

bjs
Dani @danismrego